domingo, 31 de julho de 2011

A maternidade sem glamour


         Propaganda sobre amamentação: uma mulher linda, rosto  e sorriso serenos, vestida de branco, levemente bronzeada, o suficiente para parecer saudável. Na embalagem das fraldas: uma mãe feliz e penteada, levanta seu bebê para o alto. Dia das mães está chegando, e se multiplica o número de mulheres felizes e lindas com seus vestidos esvoaçantes em um campo florido. Entre tantas belezas....que cheiro! Seu bebê fez cocô. A vida real e cotidiana te chama, minha amiga. Mas, calma. O glamour da maternidade não te abandona, nem se você quiser.
           Ao lado do seu trocador lá está aquela mãe, (filha de dona de SPA [só pode]) olhando para você. Dia de vacina? No posto de saúde as mães artistas, ainda mais bonitas depois da gravidez, mulheres agora plenas, te olham, quase com com desaforo, nos cartazes das campanhas de vacinação.
           Na saída do posto: o bebê chora, você ainda precisa comprar o remédio (porque, sim, essa vacina vai dar reação e você vai ter que usar seu instinto canguru para acalentar a cria, que mais parecerá filhote de sagüi colado no seu corpo), o almoço ainda não está pronto, o bebê vai querer mamar e as mamadeiras ainda não estão esterelizadas. O que mais para hoje? Bom, hoje é dia 15, tem que pagar a água, a luz e o telefone. Mas, não dá para reclamar, ser mãe é isso. Então por que todas as imagens da maternidade que circulam por aí representam uma mãe impossível?
         Talvez porque eu (e você) não compraríamos uma fralda na qual a embalagem aparece uma mulher um pouco abatida de cansaço e com olheiras de panda. O cabelo dela? O cabelo está sem a tal escova progressiva, regressiva, alternativa, seja lá qual for, porque desde a gestação, nada de química. Ela tinha luzes na sua época independente? Só lamento. Coloque aí nessa mulher uma raiz escura no cabelo um pouco judiado pela química e pela falta de tempo. Não se esqueça de acrescentar alguns melasmas, porque ela ainda está sob efeito dos hormônios da gravidez. Quem compraria um produto vendido por esse ser?
          A maternidade é multifacetada. Muito se fala/mostra do lado comercial, social, econômico, cultural. Mas pouco se toca no íntimo. O dia a dia das mães mulheres, mulheres mães não está nas revistas, na televisão, na publicidade, nos cartazes. Parece um ritual secreto. Só as iniciadas conhecem, e, os segredos dessas vivências só são compartilhados com aquelas que também já passaram por essa fase.
        Não quero dizer que depois do nascimento de nossos filhos somos privadas de nossa vaidade e passamos a viver largadas. Mas, sim, que a maternidade é mais do que a plenitude da mulher, é também um marco de mudança de prioridades, no qual nós mesmas ficamos naturalmente em segundo plano. As visitas não são mais para nós. No telefone, todos perguntam primeiro sobre o bebê. O tempo é para a criança, para o trabalho, para a casa, para o marido, e quando sobra um chorinho conseguimos fazer um poucadinho por nós mesmas. Isso é bom ou ruim? Nem um, nem outro. É natural.
       Portanto, é natural, que fiquemos por um tempo com as unhas feitas, mas com a depilação por fazer. O tempo é curto. Quando conseguimos tratar dos pêlos, as unhas já precisam de retoque. Simples resolver esse problema: “Podemos levar nossos filhos no salão”. Apesar das turbulências nessa visita, podem acreditar, todos saem vivos dessa jornada. Mas não dá para ir no salão, comprar uma lingerie nova, tomar um banho de diva e sair para jantar com o marido bela e formosa. A maternidade nos impõe a todo tempo a necessidade de escolhas. E, por sua vez, as escolhas implicam renuncias.
         Na maioria das vezes, as renuncias a que nos prontificamos dizem respeito à nós mesmas. E isso não é viver sem vaidade, mais feia, desleixada. É um exercício. Exercício contra o egoísmo, exercício de malabarismo (às vezes milagre) com o tempo, exercício de olhar para nós mesmas da forma como somos naturalmente. Por mais que sejamos bombardeadas por representações bonitas e agradáveis da figura materna, somos levadas a nos ver como somos, sem maquiagem, e nem sempre essa figura nos conforta. Vemos nosso corpo modificado, nossa vaidade atravessada, e esse exercício de autoconhecimento, ultrapassa os limites do que é visto no espelho.
       A maternidade nos dobra para dentro de nós mesmas. Além das unhas, do pele, da celulite, da flacidez, olhamos para nosso comportamento, nossos pensamentos. Nos vemos cruas (e tão imperfeitas). Mas nos vemos também diante de uma oportunidade (ou necessidade) de nos mudar, ou simplesmente de nos aceitar. Aceitação de como somos. Sem química, sem etiqueta, sem photoshop, sem maquiagem, sem contenções. A questão é: Estamos preparadas para esse encontro com nós mesmas? 

5 comentários:

Lindo, lindo, lindo!!!
Adorei, como já disse, me fez chorar!

Este comentário foi removido pelo autor.

Multifacetada, impossível não concordar. Amei!
Fiquei emocionada, porque juntas percebemos que TODAS passamos pelo mesmos dilemas, e tendo tantos ombros e histórias, tanta vivência de nossas próprias experiências, deixamos de nos sentir sozinhas e um tanto quanto ET's. Somos normais, naturalmente mães... sempre aprendendo, sempre ajudando

A maternidade é a aventura mais completa de minha vida! Virei mãe e aos poucos fui me lembrando de que ainda sou mulher!

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